quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ARMAS DE FOGO

imagem google

Eu já portei uma arma de fogo. Quando tinha 22 anos, fui a uma praia no litoral paulista e meu irmão emprestou-me o carro dele. Deu-me um revolver, dizendo que lá podia ser perigoso e que era bom levá-lo só por segurança. No primeiro momento fiquei tão atônito com a oferta que quase instintivamente desisti da viagem. Depois, rapidamente foi crescendo dentro de mim um poder imaginário misturado com pavor e tive, acordado, pesadelos atraindo desgraças pro meu lado. Senti uma mistura de poder divino e satânico enquanto a manuseava. Quando a coloquei no carro para seguir meu caminho senti um medão danado. Medo de ter que utiliza-la e não saber depois se o poder que ela havia me conferido seria meu infortúnio para o resto de minha vida ou algo que me fizesse sentir mais cidadão desse mundo. Se usasse em legítima defesa ou se abusasse do meu poder letal só depois é que as coisas iriam se definir na minha mente e no julgamento que ia ser feito de meu ato. O fato é que a posse de uma arma mudou completamente a noção das coisas em minha cabeça.

Eu fiquei me lembrando disso depois que passei a estranhar a Scotland Yard, a famosa polícia inglesa. Desde o assassinato de um brasileiro (Jean Charles) que eu penso nesta força policial invejada pelas populações das grandes cidades do mundo e almejada pelas polícias idem. Eles até pouco tempo atrás não usavam armas de fogo nas ruas. Tinham outros meios de combater a pouca incidência de violências em Londres. O que mudou? A polícia, as pessoas ou a cena urbana? O mundo não está ficando mais violento do que já foi. O que eu consigo enxergar agora, depois de passear pela história é que no passado a violência era mais uma prerrogativa reivindicada por alguns mandatários (reis, estados nacionais, forças milicianas e guetos). Agora me parece que disseminou para fora dessas forças e se instalou dentro do indivíduo sem muito controle. Quando não é de fato, pelo menos em potencial. Com isso aparecem as soluções imediatistas. É muito mais cômodo armar a população e deixar que ela resolva a seu modo os problemas de violência pessoal do que investir numa educação para a paz e a fraternidade (na prática não é assim, bem diferente dos discursos oficiais?). Há também a pouca confiança nas políticas públicas de segurança contribuindo para aumentar o ímpeto da auto e legítima defesas.
 
Por isso eu continuo com muito mais medo de manusear uma arma hoje do que eu tinha lá nos meus aventureiros 22 anos. A forma banal com que a vida tem sido tratada me faz preferir evitar lugares, situações e eventos que me instigariam a reagir a uma ofensa ou afronta do que pegar uma coisa tão pequenina mas tão destruidora

15 comentários:

chica disse...

Eu tenho medo só de ver,sabes?

Mas há outros "tiros" que a vida nos dá que matam por dentro...

abraços,chica

Rô... disse...

oi Cacá,

acho que a maturidade nos traz maior entendimento dos reais problemas,
mas também nos dá muito mais equilíbrio,para resolvê-los,
passamos a ser mais coerentes e menos aventureiros,
correr riscos já não faz parte dos nossos planos,
a tranquilidade,
a paz de espírito
e o conforto da alma e do coração,
com certeza nos empurram para bem longe da violência...

beijinhos

Kunti/Elza Ghetti Zerbatto disse...

Bom dia Cacá!
Armas?
Quero distância de anos-luz delas.
Parabéns pela crônica.
uma ótima quinta-feira para ti.
abração

Vivian disse...

Olá,Cacá!

Impressionante e instigante sua crônica. Quantos não usam a arma para sentirem-se seguros e não pensam nas consequência? Uma segurança ilusória...
Sou a favor do desarmamento.
Sem arma alguma as pessoas já abusam da violência, quando ela está no meio dá sempre em morte.
Beijos!!

Anônimo disse...

Eu não gosto de ver nem de longe. E penso que mesmo quem utiliza arma como ferramenta de trabalho, não deveria guardá-la em casa. Ao alcance de criança, então, nem pensar. Abraços, Cacá!

Meire Oliveira disse...

Cacá querido, a verdade para não ajudar na hora do nervoso é bom não ter uma arma por perto, pois infelizmente tem pessoas capazes de fazer coisas ruins com elas. E tbm acidentes que jamais esperamos podem acabar com vidas.
Bjokitas com carinho!!
:)

Ana Cecilia Romeu disse...

Cacá,
nossa! Eu não estava conseguindo acessar teu blog...
Mas, é o seguinte: quero é distancia das armas, e acho que tudo pode começar lá de criancinha, tirando essas armas de brinquedo do pessoalzinho, o que, acredito, é pouco, mas pode já começar a educar o pessoalzinho!
Abração! Muito obrigada pela presença!

Toninho disse...

Pois é Seu Zè, com esta sua bela cronica eu faço uma viagem ao passado não tão distante de minha infancia,onde as armas eram frequentes nas casas as vezes livremente dependuradas numa sala.Tempo da pratica da caça e que menino ainda era levado a estas e ali manuseava as mesmas com os pais.Claro que alguns acidente aconteceram e fatais,mas era tão pouco o uso delas para contra o proximo.Algo mudou e muito, né?
Banalizaram a morte e criou o terror.E nós ficamos cada vez mais medrosos e presos.Mas levo a certeza de minha melhor arma é não ter a arma.
Meu abraço armado de flores amigo.
Um bom fim de semana na paz e harmonia do lar.

M. Nilza disse...

Bom dia Cacá!

Eu tbm já tive uma arma, pois fui casada com militar e até arrisquei num tido que foi para o alto..rsssssssssss
Porém , acho que atualmente ter uma arma em casa é muio mais prejudicial que traz benefícios.
Beijos

Celina disse...

querido amigão tudo de bom para vc. Gostei muito do teu comentário,vc dando um exemplo também, relutei para pública-lo, para não dar a impressão de querer aparecer uma das filhas léu, mãe não vejo nada demais. olha cacá não contei nem a metade do trabalho que deu, reorganizar a vida dele mais graças a deus deu tudo certo, valeu! quanto a arma de fogo é melhor não usa-las. Abraços Celina.

Anônimo disse...

Amigo Cacá,

Para que serve uma arma, senão para matar? Alguns têm a falsa ilusão de que ela nos protege, como se fosse a coisa mais natural do mundo, por exemplo, reagir a um assalto rolando no chão e sacando o revólver para nos defender, como em filmes equivocados de ação. Espero que a maturidade social nos traga um dia mais segurança. Belo post esse!

Bjs!!

Hotel Crônica disse...

Sem dúvida.
Também seria incapaz de portar uma arma Cacá.
E se a cidade se tornar tão violenta que seja impossível caminhas nas ruas, prefiro me refugiar na natureza do que aderir à violência.
Belo texto.
Abraço de quebrar a costela.

Anônimo disse...

Quando estamos mais amadurecidos, pesamos mais as consequências.
Falou uma coisa interessante, quando a pessoa toma posse de uma arma, ela fica "poderosa" e daí as vezes nao mede suas ações.
Uma crônica interessante e que nos faz refletir em atos impensados e em fatos que só acontecem pq o acaso permite.
Beijokas doces e um ótimo fim de semana.

Eva disse...

Aplausos Cacá, concordo com você, adorei muito teu texto, quero distância de armas de fogo e consegui imaginar o pavor que você sentiu com ela, ao lado, muda tudo, uma força muito pesada realmente, parabéns, obrigada pelas palavras. bjos.

Denise disse...

Tb nunca convivi em paz com as armas, e acho que a banalização da vida carrega o tiro que extermina o bom senso...

Bom domingo, Cacá, bjos!

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