sexta-feira, 9 de outubro de 2009

VIDA DE PEÃO - O SUSTO

Bom Conselho é uma cidade do estado de Pernambuco, a mais de 2.000 km de distância da cidade onde o Osório fora trabalhar, Mariana. A obra ficava afastada da cidade. Uma fazenda onde se descobriu minério, fora desapropriada e estava se instalando ali uma empresa mineradora. Mais de três mil peões vindos de todos os cantos de Minas e do Brasil. Osório era um carpinteiro. Um artista com armações, formas e ferramentas nas mãos. Requisitado nessas firmas que correm o país construindo obras. A rotatividade de mão de obra nelas é imensa, mas há os casos dos peões seletos, que acompanham a firma onde quer que haja um serviço de importância. Há casos em que elas costumam pagar o trabalhador para ficar em casa, aguardando obra nova. Fazem isso para não perderem os mais qualificados e dedicados operários. Como o Brasil nunca viveu grandes períodos sem crises, deu-se do Osório ficar desempregado. Saíra de casa lá de Bom Conselho, dando a benção aos três filhos e um beijo na mulher dizendo que avisava onde estaria, que mandaria dinheiro para as necessidades tão logo arranjasse colocação. Havia três meses que Osório trabalhava duro de sete da manhã às sete da noite, de segunda a sábado. Tinham pressa os engenheiros comandantes do projeto. Prometeram entregar a infra-estrutura em um ano para que fosse instalada a usina que iria beneficiar o minério retirado da mina.


Numa segunda feira, no horário de almoço, o chefe do escritório mandou lhe chamar. Os comentários no meio dos colegas são imediatos: ou é demissão ou é aumento. Não fica se chamando peão no escritório da chefia por qualquer coisa. A tranqüilidade era geral no seu caso, funcionário exemplar, possivelmente ia ser promovido a mestre de carpintaria. Saiu com um papel nas mãos e um semblante preocupado. Entrou de imediato numa sala ao lado que era a do engenheiro responsável pela obra toda. O homem que fazia chover e trazia o sol, segundo jargão corrente. Em menos de cinco minutos deu-se um ruído de vozes alteradas no escritório e, no minuto seguinte, barulho de coisas sendo arremessadas por todos os lados, desenhos, pranchetas, material de escritório, cadeiras. A segurança fora acionada e foram contidos os ânimos. O engenheiro saiu lá de dentro correndo assustado, e o Osório foi levado para fora do canteiro de obras no carro da segurança e nunca mais foi visto. Todos se enganaram quanto a promoção ou o aumento de salário O papel que ele levava era uma carta. A sua mulher descobrira, depois de muito pesquisar nas empresas onde ele costumava pegar essas empreitadas o seu paradeiro lá nessa localidade. A carta dava-lhe 48 horas para voltar para casa sob pena de colocar outro homem no seu lugar, segundo disseram os homens do escritório que conversaram com ele. A bagunça toda foi por causa do seu pedido imediato de demissão recusado pelo engenheiro. Alegava ser bom empregado, não haver motivos para tal ato. Ao que o Osório resolveu fornecer, quebrando todo o escritório. Não ia deixar que ocupassem sua cama lá no Bom Conselho. Não se chegasse a tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cacá,

Meu amigo, já fui peão de trecho, é uma coisa meio viciosa, cabras deixam as mulheres em casas meses e meses, para estar em acampamentos com as peãozadas.... Mas eu era solteiro, nuca passei por esta situação... hahahaha

Parabéns meu amigo, mais uma bela história..

Como acredito ser um bom aluno, escreví que aprendi com você....

Dê uma conferida!!!

Páz e muitas felecidades, procê e os seus...

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