Dona Ruth Tarbes possuía a única escola de datilografia da cidade. Lá ia lá eu nos meus 12 anos fazer a aula. O curso durava três meses, com uma hora de aula, durante três dias por semana. A mãe tinha dito:
- Seu pai vai pagar, com muito esforço, essas aulas para você aprender alguma coisa, meu filho.
Nesses dias de hoje aprender uma profissão é muito importante e quem não sabe datilografia, já está condenado ao trabalho pesado. (a máquina manual, até inventarem a elétrica já era um peso danado) O rigor da D, Ruth era tamanho que ela não se permitia intimidades com os alunos, nada que fosse além de um bom dia ou boa tarde. E tome lição:
asdfg, asdfg, asdfg, asdfg (mão esquerda)
çlkjh çlkjh çlkjh (mão direita) - lembrando que a máquina não tinha ainda o cedilha ( o c era “batido” depois de se colocar a apóstrofe). Saía como se faz com o acento agudo hoje: primeiro o acento, depois a letra acentuada. E detalhe: tinha que fazer tudo olhando para o papel à esquerda. Não era permitido olhar para o teclado. Quem fazia isso, jamais iria ser rápido, ensinava rígida.
E todos os testes para emprego que se diziam modernos, tinham avaliação de datilografia eliminatória. O considerado ideal era 400 caracteres (toques) por minuto. Um verdadeiro vestibular ou exame de motorista em termos de tensão e nervosismo do candidato. No final, descontados os erros de datilografia, tinha que se acertar o mínimo de 320 toques para ser aprovado.
E que especialização! Minha irmã e madrinha já era professora e me pagava para datilografar suas provas em estêncil e rodá-las no mimeógrafo a álcool (o movido a óleo ainda era muito caro). Mas isso já é assunto para uma outra crônica de modernidade
1 comentários:
Cacá, só você mesmo pra me fazer viajar no tempo. Que delícia! Por que não leva essa história para o Boteco, estamos falando sobre lugares lá hoje, pedaços de nós. Aliás, você tem aparecido pouco por lá, até andei falando em queijo bem alto pra ver se chamava a sua atenção, mas que nada!
Então, deixa eu contar...
Meu pai era paisagista e montou um escrtórinho lá no Viveiro. Era bem arrumadinho e tudo. Tinha uma maquininha de escrever azul lá, que ele comprou de segunda mão. Eu esmigalhava naquela danada. Passava o dia no escritório só no tectectec da maquininha. Foi assim que eu aprendi a datilografar. Com o tempo, minha mãe comprou uma máquina nova para o escritório (tinha até uma elétrica)e aí meu pai me deu de vez a velhinha. Puxa, eu me acabava naquela maquininha, sempre gostei de escrever, e por meio de teclas então, que delícia. Eu acho que isso é influência que sofri desde a barriga, porque minha mãe era digitadora e eu fui gerada sob os tlec tlec tlec do trabalho dela. Ela conta que os colegas de trabalho brincavam, dizendo que ela tinha uma digitadorinha na barriga e que eu ia nascer ali, em cima do teclado, de tão enorme que ela estava...rsrsrs.
Só sei que depois que meu pai me deu a maquininha de escrever velha, meus trabalhos da escola eram quase sempre datilogrados, e eu viva fazendo em forma de revistas (pra você ver o sangue jornalístico desde pequena... ahahaha). Nunca fiz curso, soi assim que eu aprendi a digitar (e adooooooro. Até escrevi sobre isso no Texto-Sentido, nos posts antigos)
Postar um comentário