“...Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam...”
(Maior Abandonado, Cazuza)
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Eu fui procurar uma senhora que vi no jornal. Lá na praça da rodoviária onde ela vive. O que me chamou atenção não foi o abandono. É que ela é da minha cidade, Itabira. Está aqui
Atualização da teoria de Malthus. Aquele inglês que disse no século dezoito que a melhor maneira de se acabar com a pobreza era eliminando os pobres através da fome, das pestes e das guerras. Em certa medida, mesmo que não esteja nos programas de governo do mundo, tem dado resultado. Outro dia eu vi um senhor dando umas moedas para um homem imundo e maltrapilho na rua. O homem estendeu a mão para agradecer ao senhor e este recusou. Depois se virou para os passantes e com aquela fisionomia de asco (acho que era asquerosa), comentou “ Tá louco, que nojo!”
Ainda não é dessa forma que queria tratar do abandono em uma crônica. Que saco!
A senhora da entrevista era articulada no linguajar, disse que possuía casa, já teve trabalho, mas resolveu ir morar nas ruas. Quando a pergunta era sobre os filhos ela desviava o olhar despistando as lágrimas que insistiam em derrubar a sua altivez momentânea e vacilante.
A mídia faz sempre esses trabalhos maravilhosos. Mas fica lá num canto de página. O que importa mesmo à grande maioria é a chamada de capa, a manchete (resulta em venda imediata). O resto cai no esquecimento, no abandono também.
Já reparou que com o advento do “politicamente correto” o menor abandonado ganhou o eufemismo de menino de rua? Fica até mais fácil mantermos o estado de abandono com menos culpa. A semântica ajuda bastante nos gestos.
O abandono não encontra redenção em nenhuma teoria. Não sucumbe à insensibilidade. Saí daquela cena. Na mente, uma definição doída: a fotografia da indiferença jogada ao relento.
Não consigo falar mais nada.
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* Publicado no site Duelos Literários como tema do mês de setembro/09
2 comentários:
Cacá:
Vim te visitar para agradecer o seu comentário na minha poesia O Homem no Lixo. Muito obrigada mesmo!
Vim dizer também que achei o seu post do Tema do Mês o melhor de todos (que meus amigos de lá não leiam isso... rsrs), pois é muito bem escrito, nos coloca na situação de forma fácil, faz críticas absolutamente pertinentes e, além disso, possui um toque literário especial. Adorei mesmo! Você está de parabéns! Devia participar mais do Duelos, para nos brindar com as suas ideias e forma tão peculiar e bela de escrever.
Hoje estou com pressa, então não pude ler mais posts seus por aqui, mas um dia passarei com mais calma.
Um abraço.
Cacá:
Hoje postei, no Duelos, o comentário que você fez no texto do Aaron, pois achei que vale a pena torná-lo público para a reflexão de nossos amigos.
Abração!
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