Zé do ovo era um rapaz esquisito, acabrunhado, cabisbaixo, calado, sério. Quase dois metros de altura, uma magreleza de invejar as modelos atuais. Nunca ouvi sua voz, nem nunca sabia aonde ia. Passava todos os dias duas vezes na minha rua, seguindo a mesma trilha. Não andava no meio fio, só no canto esquerdo da rua. Ia e voltava sem um embrulho sequer na mão. Uma diversão para os meninos da rua era vê-lo passar e gritar ‘Zé do Ovo’, correndo em seguida para esconder, talvez pudesse ser violento. Nem isso dava para saber. Apesar de magro era muito grande, quase adulto. O chamávamos assim por causa de sua corcunda.
Começou a aparecer há tempos um caroço nas minhas costas. A princípio ardia um pouco e, dois médicos depois, fui acalmado, dizendo-me ele que era gordura localizada, tiloma, sei lá. O negócio de lá para cá só vem crescendo apesar de a queimação ter parado. Na última consulta, levei um baita susto. Ele afirmou que é para retirar sob o risco de se transformar em um tumor. Já vou providenciar rápido com medo de pagar língua. Já estou meio redondo para ser chamado de Zé do Ovo.
O feitiço virando contra o feiticeiro ou a vaidade doendo mais que o medo.
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