domingo, 19 de outubro de 2008

REFÉM

Você é convidado a tripular um barco onde o dono quer pegar muitos peixes. Peixes grandes e pequenos e médios. E você tem que ajudar a pescar com a promessa de que ganhará peixes. Dependendo de sua capacidade de pescar, você pode ganhar bagres e lambaris, ou pintados e dourados , até mesmo salmão e anchova. Se você parar para descansar, ficará sem os peixes até que retorne à sua atividade. Se desistir, perderá todos os peixes. Se o barco afundar, só o dono possui bote salva-vidas. Assim é o cliente fidelizado, como são chamados os incautos fregueses dos vendedores e prestadores de serviços em geral. Transformamo-nos na verdade em reféns da nossa própria vontade de consumir bens e serviços.

Fidelidade pode ser um trato ou uma opção. Acho que obrigação, nunca.

Estou criando o cliente refenizado, que é similar ao fidelizado, com a desvantagem de pesadas multas em caso de desistência do serviço ou produto. É engraçado. A gente sustenta os fornecedores e para que eles nos continuem fornecendo, somos obrigados a lhes ser fieis. Tudo bem, quando o produto ou serviço é bom. A gente é fiel sem precisar de nada em troca. Basta a satisfação com a qualidade do atendimento, da procedência do artigo, da excelência do serviço. Fazemos até propaganda ajudando o dono a economizar com marketing. E olha que funciona melhor a divulgação à boca pequena.

Estamos acostumados ao toma-lá-dá-cá imposto pela monetarização da vida, pela extinção do ato renegado. O sujeito vai à sua casa para consertar uma instalação ou aparelho. Se o serviço for bom, o preço também e o trato pessoal razoável, é quase automático que você o indicará para outras pessoas que necessitarem do mesmo serviço. Na feira é a mesma coisa; no supermercado, na loja, enfim, retribuímos os afagos voltando sempre e indicando para quem quiser saber. É uma reação natural de satisfação, quase instintiva.

O que vivemos é o inverso. Você terá boas condições, bons serviços e bom trato se for fiel a quem lhe vende um serviço ou produto.

(P.S.): E na vida a dois, hein?

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