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Os barulhos tecnológicos parecem
gozar de mais prestígio aos ouvidos urbanos do que os antigos sons da natureza.
Há quem prefira acordar com um celular apitando freneticamente do que com um
galo cantando.
Seu Alberto e Antônio são
vizinhos num bairro antigo daqui da cidade. Antônio veio do interior mas o
interior não saiu dele. Ponto positivo no meu entendimento, pois o cultivo de
alguns hábitos interioranos tempera a louca correria da cidade sem tempo para
as pessoas prestarem atenção nas outras. Amistosidades
estão se tornando uma coisa cada vez mais rara. Animosidades, por outro lado,
são tão comuns que tem gente que até desconfia quando uma aproximação se mostra
muito amável, a ponto de virar futura amizade. Pois era assim com os dois. Seu
Alberto, nascido e criado em cidade grande, já morou no Rio, São Paulo, Porto
Alegre e Salvador. Depois de rodar muitos anos, voltou e disse que logo que se
aposentar (em breve) fica quieto por aqui mesmo, já que é de BH e a família
nunca o acompanhou pelos trechos por onde circulou a trabalho.
Antônio cultiva uma bela horta em
seu pequeno quintal e não foi uma ou duas vezes que distribuiu verduras para a
vizinhança. A família de Seu Alberto sempre recebeu muitas couves, alfaces e
cheiros verdes fresquinhos do vizinho do lado. Bom sujeito, dizem outros
vizinhos. Ele mais o seu Alberto tomavam uma cervejinha toda sexta feira num
boteco perto de casa e contavam longas histórias de vida e família. Agora estão
numa querela na justiça. E sabe o porquê? Por causa de um galo.
Antônio resolveu incrementar seu acanhado
sítio urbano de pouco mais de um are, fez um pequeno galinheiro e cria umas
galinhas caipiras para consumo próprio e ovos. Galinha poedeira que se preze
não vive sem um galo na sua freguesia e o Antônio caprichou na escolha. Um
cantador de primeira, pois segundo os galistas mais entendidos, quanto mais
potente o canto, mais eficiente o galo na cobertura do galinheiro inteiro, seja
quantas galinhas possuir. Seu Alberto queria que ele matasse o bicho. Matar o
galo é extermínio criminoso de animais, defende-se o Antônio.
Nerso da Carpitinga, personagem
caipira do humor televisivo tinha o seu Frederico, criado dentro de casa
tamanha a estima do dono. E quem não se lembra da Giserda do Chico Bento,
companheira de cocoricós e andanças com ele pelo sítio criado pelo Maurício de
Souza? Chico fazia até declaração amor pela Giserda.
Seu Alberto e o Antônio viraram
inimigos. Seu Alberto, apesar de acordar cedo para o trabalho não aguenta a
cantoria do galo, normalmente anunciada uma hora mais cedo do que a sua
necessidade. O juiz propôs um acordo amigável solicitando ao Antônio fazer uma
cobertura com isolamento térmico, pelo menos para colocar o galo até o dia amanhecer
por completo. Ele negou-se alegando cárcere privado e maus tratos aos animais.
Seu Alberto mantém-se irredutível: o galo tem que ser silenciado de um jeito ou
de outro...
Depois desses argumentos o juiz
nem cogitou a segunda hipótese – o plano B - que era a de cozinhar o galo e
fazerem um almoço de confraternização das duas famílias. Encerrou a tentativa
de conciliação e marcou a sentença para daí a alguns dias (se o galo não sofrer
um atentado até lá).
15 comentários:
Ai meu Deus,que história!Sabe que tenho uma cabelereira com esse problema?A vizinha tem um galo e ele canta bem mais cedo do que a cabelereira precisa para levantar!Seu caso é muito verdadeiro, mas eu sou a favor do galo,sempre!Bem melhor acordar com galos que com celulares!....rss...bjs e bom final de semana!
Oi Cacá,
Me diverti com a história, mas gostei mesmo foi de seu jogo de expressão com as palavras "animosidades" e "amistosidades".
Você é "o cara".
Também estou a favor do Antônio com a preservação de seu galo (rsrsrs).
Adorei a narrativa!
Grande abraço. (Que tempinho, hein?).
Bom dia CócóriCacá!
Junto-me ao time dos defensores do Galo, embora compreenda a intolerância do Sr. Alberto.
Em tempo, adorei seu libelo em defesa dos blogs, entendi que sua filha está bem mais à vontade no dela, conforme seu relato. Não tenho tempo nem paciência para as redes sociais, embora admita que entrei no Linked In por motivos profissionais. E meu perfil começado há anos no FB está igual ao 1o. dia...
Ah, já li o "Arcanjo" e nem preciso te dizer que gostei demais, sendo minha preferida "o balanço da terra". Depois te elogio mais (comentário em blog devia ser que nem o twitter: no máximo 140 caracteres, rsrsrs).
Abração!
Adh
Que a ceia de natal não seja de galo!
Abração, Cacá!
Berzé
Barbaridade, Seu moço Cacá!
Um caso doloso desse põe até o autor da histório no imbróglio, por uma condenação injusta das penas. Alberto deveria ter um galo também e propor uma rinha. Pronto , dá outra história.
I num é, siominerim?
Fala, mestre Cacá! Tudo bom?
Bom, eu quero primeiro primeiro agradecer as suas palavras lá no meu (tosco) blog e no (ótimo) blog da Cissa - a postagem do gaúcho e baiano. Eu agradeço muito as suas palavras, que sempre são muito importantes para mim e considero uma honra tê-lo como visitante e comentarista em meu blog por estes anos todos. Gracias, mestre!
Eu sei que ando sumido mesmo, mas nem o meu blog eu tenho conseguido atualizar - só mesmo a Cissa pra tirar a poeira de lá. Época de final de ano em escola é corrido demais e no tempo livre que sobra eu estou basicamente esgotado...rs
Espero em breve conseguir retomar o ritmo de antes.
Ah, essa história do galo lembrou-me exatamente do Chico Bento e de um primo da cidade que não conseguia entender como o pessoal da roça acordava tão cedo sem despertador ao lado da cama. Na manhã seguinte o primo foi despertado pelo galo e ele quis levar um para a cidade. Mas é claro que isso deu muita confusão, afinal estamos falando do Chico Bento.
Esse galo aí do seu Antônio eu defendo, mas não gostei daquele Galo de futebol aprontando o que aprontou na última rodada do campeonato. Aquele Galo, sim, merecia ir para a panela! rs
Abraço, mestre!
Uai, Cacá!
Fiquei com pena do galo, menino!
Mas essas coisas de vizinho... eu bem que sei! :)
Muito bem-escrito!
Dei meu pitaco no post anterior também.
Obrigada pelo carinho no meu blog e no blog do Jaime.
Ótimo domingo para ti e família!
Oi Caca....
Amei sua cronica. Final hilariante.
Eu entendo os dois lados.
Mas que culpa que o Galo tem? rsrsrs
Situacao dificil....pq cada um tem a sua razao.
Tava aqui pensando numa sugestao para o entendimento dos dois....mas ta dificil..rsrs
Um bj..domingo de paz a vc!!!
ah, ontem nós falávamos sobre isso. assisti o filme saci que faz 60 anos. e comentávamos o qt aproveitamos pouco a natureza. aos fins de semana vão a parques ou a shoppings, mas tudo muito bem organizado e pouco natural. beijos, pedrita
Que texto gostoso, Cacá! Prefiro acordar com o cantar do galo a ouvir celular tilintar. Bravo, moço! Abração.
Que história, hein? Haahhhhha..
Super criativo!!!
Tudo bem contigo, Cacá?
Estava com saudades daqui.
Beijos!!
Eita nós!
Coitadinho do galo.
Tomara que ele não tenha nenhuma surpresa desagradável.
Adorei a estória.
abração
kkk, este galo parece como o meu pato. Mas que coisa né a intolerancia na cidade grande, o que para uns é fantastico para outros um torpor.Enquanto isto eu vou alimentando as rolinhas,sanhaço, e sabiá que visitam o predio.
Sinto falta do som do galo pela manhã.
Um abraço.
Olá,Cacá!!
Puxa!!É sério?!!
Para brigas e desavenças, parece não ser necessário um motivo forte...qualquer um serve!!Que coisa!
Que texto lindo!!!Espirituoso o ainda nos instida a pensar!!!
Tem que haver um concenso...virar inimigos...é demais!
Beijos pra ti!!!
Pois é, Cacá... Não tiro a razão do vizinho acordar de segunda a segunda no mesmo horário! Imagine ano após ano assim! Afinal é uma vida, uma família...
Matar o galo, não!
Pois é, mas penso que lugar de galo é mais no sitio, não? E se for, não tem jeito. O galo tem direito de cantar.
Olha, pensando bem, não achei solução, rsrsr.
bjs, muito boa esta hstória! Uf, vizinhos...
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