quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SOBRE O MAU HUMOR


- Pai, a gente pode trocar de padrinho?

- Que é isso, filha?

- Eu quero que o Luiz seja meu padrinho.

- Mas seu padrinho é o Luiz....

- Né esse não, pai, é o outro, o gordinho!

- Ora, filha, mas por quê?

- Ele gosta de mim, brinca comigo, me dá presente, vem aqui só pra me ver. O outro, que você vive me falando, acho que nem conheço mais. Ah, e nem ele me conhece! Deve ter me visto no batizado e nunca mais!

- Não! Ele já te viu, sim.

- Quando?

- É...é...é,...

- Tá vendo? nem você se lembra mais!

- Olha, vamos fazer o seguinte, você adota o outro e fica com os dois, tá bom?

- Não, não e não! Eu quero é só o gordinho. E pronto!

A menina tinha nove anos e acabou conseguindo trocar num acordo meio espúrio com o pai, através da promessa de nunca contar para o renegado caso ele algum dia aparecesse.

Sabe o mau humor? Não estou falando desses momentos de desvio de rota de nossas bem intencionadas vontades, desejos, dos imprevistos e dos inesperados fatos que nos tiram do sério. Nem do cansaço que bate de vez em quando e não há nada que nos alegre. Momentaneamente. Momentaneamente.

Existem umas pessoas cujo mau humor parece entranhado feito aquelas outras que de tanta alegria, riem até da desgraça. Não os tolos. Os alegres e de bem com a vida, faça tormenta ou calmaria.

O compadre era dos primeiros, dia e noite, noite e dia, entra ano e sai ano. Nada havia que não desse queixume, chororô. No fundo, para ele, ninguém prestava, trabalho nenhum era bom. Não havia profissional que fizesse coisa igual ou sequer parecida com ele. A desconfiança era seu cartão de visita a qualquer conhecimento novo, pessoas novas, situação nova. Tinha sempre, na ponta da língua um gume afiado de palavras de desalento, de descaso com o outro. Foi numa tentativa de aproximá-lo mais de alguma alegria que deu a menina para batizar. Gostava dele, apesar de tudo. Seu mau humor não chegava a induzi-lo à maldade. Já eram amigos há tantos anos... Quem sabe a menina na sua inocência imaculada dos primeiros anos de vida não lhe trazia alguma razão pra ver a vida com olhos sem amargura?


A menina agora é uma mulher de vinte e dois, feliz da vida com o Luiz (o gordinho). Da última vez que encontrou o compadre na rua, já tinha mais de dez anos que não se viam. Um abraço forte, caloroso. Mas aquela cara de desânimo.

- E ai, compadre, como vai a vida? Há quanto tempo não nos vimos...

- Pois é, rapaz, to lá ainda naquela merda de emprego. Ficam me perseguindo o tempo todo. Uns incompetentes.

- E o casamento?

- Uma porcaria. A mulher não ajuda, sabe como são as mulheres, né? Tô cansado, querendo mudar de emprego, a vida tem sido tão difícil, ganho pouco, a minha chefe só promove quem não merece... No mais tá tudo mais ou menos. E você?

Depois de tanto tempo uma recepção “calorosa” assim não tinha outra reposta:

- Bom compadre, eu tô atrasadíssimo, minha filha ta me esperando para um almoço (nem perguntou de sua ex-afilhada). Anote meu telefone novo ai. Me ligue depois para a gente marcar uma conversa. Foi um prazer revê-lo. Tchau!

2 comentários:

Aliz de Castro Lambiazzi **jornALIZta** disse...

Tchau mesmo, né Cacá?
Gente mau humorada, amargurada é difícil de aguentar. Ainda bem que o seu persobagem sumiu, pois creio que a presença constante dele pudesse se tornar um suplício, isso sim. Tomara que ele nem telefone...rsrs. Se nem o tempo e nem as lições da vida foram capazes de curar a amargura dessa pessoa, nada mais será, é congenito.

Beijos

Anônimo disse...

Grande Cacá.....

Calundú é um caso sério.

A pior coisa do mundo é chefe de repartição que tem mania de mau-humor. Tem que esperar ele chegar para ver como será o clima do dia. Tem que esperar ele contar a primeira piada do dia, esperar a primeira risada, esperar ele dar a opinião sobre o jogo. Chefe mau humurado é chato!!!

Abração meu amigo, estou meio quietinho, mas estou sempre aqui.

Vamos fazer uma mudança? Veja lá.

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