Fui ditando para a moça meus dados para o preenchimento do cadastro. Como era para uma pesquisa sem fundamento científico nem me vender nada (graças a Deus), fui divagando.
- Moro numa rua que começa
- Meu número é o da sorte.
- Identidade? Possuo com muita coisa. “Com algumas pessoas eu me simpatizo por acreditar nos seus olhares, com outras eu me simpatizo pelas suas qualidades de caráter, com outras ainda me simpatizo por me simpatizar com elas, porque sou rei, absoluto na minha simpatia, basta que ela exista para que tenha razão de ser...”(Obrigado, Bethânia)
- Já meu CPF, prefiro omitir, vai que a Receita veja... é muita explicação.
- Agora, a minha profissão? Bom, coloca aí, aposentado. Não, não. Estou novo ainda (mas já não sou aposentado?). Põe historiador. Não, não exerço mais na sala de aula, só na observação. Então ponha técnico
- Que isso moço, diletante?
- Vai de escrevedor, que é melhor. Quer saber, precisa mesmo? Então é melhor gastar essas três linhas e me colocar no sonho dos bóias frias: - “São pais de santo, paus de araras, são passistas, são flagelados, são pingentes balconistas. Palhaços marcianos, canibais...” Tá bom assim? - Agora pode fazer as suas perguntas.
Ela só riu e disse que já bastava. Saiu resmungando:
- Cada maluco...
2 comentários:
Que coisa linda Cacá...poeta mesmo, hein.
Lindo demais ! Adorei e vou visitar outras vezes...
Beijo Grande !
Andréa Marinho-Phillips
José Cláudio,
Parabéns pelo blog!
Obrigado por seu comentário no Recanto das Letras. Sou poeta também e criei um blog pra divulgar poemas e crônicas. Se puder, dê uma olhada lá!Grande abraço!
NÁUFRAGO (Victor Colonna)
Embarco numa rima ruminante
E parto numa estrofe estropiada
Eu paro, penso, pausa... e num rompante
Encontro um verso que não leva a nada.
Eu vejo a poesia tão distante
Me afogo na superfície da palavra
Eu sumo num soneto dissonante
Sufoco numa sílaba que trava.
Perdido numa quadra sem quadrante
Sou menos que figura, figurante
Pseudo-comandante, vivo em dilema
Espero que a onda não me traia
E nado em desespero até a praia
Salvo o poeta, mas naufrago no poema.
Postar um comentário