sexta-feira, 15 de maio de 2009

PREGÃO

No séc. XVIII, nas vilas de Minas, quando morria um sujeito rico ou importante seu cortejo era comandado por um pregoeiro, geralmente alguém que possuía uma voz forte, grave e alta. Ia pelas ruas e distribuía aos berros, ordens, orientações, limitações e mandamentos para o povo. Esse, por sua vez, tinha que cantar alto ou fazer barulho em homenagem ao defunto. O cara ganhava audiência para o morto, literalmente no grito. Essa solenidade se chamava pregão.


Eu, em vez de arranjar um jeito de ganhar algum aos berros, não! Fico aqui tentando achar explicação e relacionar os fatos, procurando origens, escarafunchando a história atrás de esclarecimentos para tantas coisas que vivemos e nem damos conta dos significados. Felizes aqueles que ganham o seu, pouco ou muito e vão tocando a vida sem muitas preocupações filosóficas, gnosiológicas, e outras bobagens da existência.


Ficava curioso para saber o que falavam aqueles corretores que aparecem na televisão na hora que vão dar as cotações das ações das empresas. O que subiu, o que baixou, quantos pontos. Os caras ficam com um telefone gritando cada um mais alto que o outro, que deve ser para ninguém ouvir. Dizem que saem de lá todos os dias afônicos, atrás de gengibre para agüentar o outro dia. Em São Paulo, o comentário é de que a Bolsa passou a funcionar somente a partir de 11 h da manhã exatamente pra dar tempo deles recuperarem a garganta.


Aquele berreiro todo não homenageia nenhum morto rico, mas gente ganhando um dinheirão. Vivo! E quanto mais alto o tom, mais o sujeito deve estar ganhando. É, porque nessa mesma história, quando chega a perder muito mesmo, com a mesma velocidade que encheu os bolsos, o que vemos é o cara se desesperar e se matar ou então morrer de um colapso fulminante. E seus velórios costumam ser tão silenciosos...

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