Dos doze anos em que fui dirigente sindical, D. Tereza nos acompanhou durante uns quatro ou cinco, até completar sua idade para a aposentadoria. Fazia faxina, pequenos serviços burocráticos como ir a bancos, correios, pequenas compras e, quando sobrava um tempinho gostava de fazer algum agrado para alguns diretores. Excepcionalmente, para os seus prediletos. O Júlio estava entre os escolhidos, tamanha afeição que devotava por ele. Entre os muitos chamegos, uma dobradinha ficou inesquecível, tanto que carrego ainda hoje, mais de 15 anos depois, seu cheiro quando me lembro.
Era um sobrado, onde ocupávamos – a diretoria – a parte superior e que possuía um fogão a lenha na parte de trás da recepção. Nem o usávamos pela dificuldade de se conseguir lenha na cidade e também pelo pouco tempo para se cozinhar. Além do que, como a casa ficava no centro e a cidade sendo pequena, tínhamos tempo de sobra para almoçar em casa.
No interior ainda é muito comum venderem porta a porta, não só produtos de beleza, mas de cama e mesa também. Mesa no sentido alimentar. Ela adquiriu uma quantidade de dobradinha de um senhor que passara por ali e, resolveu fazer uma surpresa para nós, mas, especialmente para o seu pupilo. Ninguém sabia de nada até que a Vera, a secretária que ficava na recepção e bem próxima ao fogão, subiu desabalada as escadas dizendo que éramos para verificar se havia algum bicho morto na casa por causa do odor de carne
Pelo que sei, essa víscera tem que ser lavada, com ácido, álcool, vinagre, uma verdadeira assepsia química antes de seu preparo. Inclusive a cor original (marrom) que estava na panela não correspondia àquela branquinha, essa sim, lavada que estamos acostumados a comer. Quer dizer, só voltei a ter coragem de provar novamente muitos anos depois.
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