segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O QUE ALGUMAS MULHERES PENSAM

ARCANJO ISABELITO ENTRE AS MULHERES


Perguntaram ao Arcanjo o que pensam algumas mulheres e ele saiu com essa (de fininho): - Eu não sei, mas sei o que fazem. Já notou que o cabelo é uma moda lisa e irritante?

Já ouviu certos diálogos assim?

-Mô, eu tô gorda? Fala a verdade, hein?

- Tá

- Gorda é a sua mãe!

- ??? Não é isso, eu ia falar a verdade!!!

Ou;

- Benhê, essa roupa ficou bonita?

- Ficou linda, amor!

- Ah, tá falando isso só para agradar. Estou me sentindo horrorosa!

Definitivamente não é para conquistar o macho que a fêmea bípede desemplumada se produz. É para matar as outras fêmeas de inveja, provar às outras que é mais sedutora, mais bela. Não estou falando de ficar bonita apenas para se sentir bem, para manter a sociedade funcionando sem falatório desfavorável. Isso é o cotidiano, não conta.

É claro que a conquista se dá pelas primeiras manifestações dos sentidos. A libido é constituída pelos olhos, pelo olfato, pela audição (esta é bem seletiva) e por último pelo tato (se o sujeito não for um depravado ou tarado que já vai logo metendo a mão boba). Depois, são outros quinhentos. Quinhentos quilos ou toneladas de infelicidade jogadas boca afora quando se vai descobrir o que era para um fazer para o outro. Era naturalmente assim o fim para o qual fomos criados em estado de natureza pura.

Tem umas insatisfações que se mudam permanentemente para a vida de umas pessoas. Essas não têm mais jeito, como se diz: o que não tem remédio, remediado está. E tem aqueles incômodos diários que não deixam pensar em outra coisa que não seja a tal felicidade. Se perguntar à multidão onde estaria essa felicidade, verá que as respostas quase sempre virão da dificuldade de pensar. Ser feliz é muito fácil se não se pensar nisso. Não vê que tem tanta gente procurando abrigo em um credo? Ali pode estar a possibilidade de se conseguir a felicidade sem fazer esforço mental para construí-la. Por outro lado, acredito que a maioria das insatisfações impalpáveis que povoam provisoriamente o imaginário das pessoas (não só das mulheres), é fruto da falta permanente de reconhecimento dentro do meio social. Não tem chapinha que resolva, não tem roupa, não tem companhia que dê jeito, não tem um “para sempre” que acalme essa insaciável procura.

É, acho que para algumas mulheres, insuficiente é o espelho, que só ensina a ver o lado de fora.



ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

sábado, 29 de agosto de 2009

DIZ O DITO POPULAR


PARA CADA CABEÇA UMA SENTENÇA?



“Tudo o que é sólido se desmancha no ar.”



Não tem umas horas que a gente age movido por um certo automatismo? Aqueles do tipo lei de ação e reação e só depois é que acionamos a racionalidade para medir o que fizemos ou o que falamos? Acontece com você, leitor? Comigo é direto e reto. “Escreveu, não leu, o pau comeu.” Ou então , “bateu, levou.” Agora, quando a situação dá um sinal antecipado e o pensamento capta, aí eu ajo que nem aquele ditado que diz que “prudência e canja de galinha não fazem mal algum.”


Pensando sobre as máximas populares vejo o tanto de possibilidades que há para se atingir o equilíbrio do pensamento que guiará a ação efetiva em tudo aquilo que fazemos.

Um axioma interpretado ao pé da letra pode levar a uma racionalidade dogmática, bem como uma ação puramente movida por razões emocionais impensadas e o resultado será sempre uma reação contrária e/ou inversa do desejado por nós.


“Aquilo que é combinado não é caro.” Se levado ao pé da letra, podemos dizer que todo pacto será cumprido a contento pelas partes que o estabeleceram, o que não é bem assim, levando-se em conta as subjetividades das partes. Aqui pode entrar um senso de oportunismo, uma falta de generosidade, complicando a justeza do que foi tratado. Mas serve de parâmetro para julgamentos que porventura venham a ser necessários num desacordo.


“Diga-me com quem tu andas e direi quem tu és” é o cúmulo do desprezo pela autodeterminação do sujeito, de sua capacidade de discernimento. Nem que as más companhias sejam única companhia desse sujeito.


As máximas só servem para explicitar a necessidade que temos de buscar equilíbrio na vida, mesmo que nossas ações não correspondam. Como é o caso do “faça o que mando mas não faça o que eu faço.” “Ou manda quem pode e obedece quem tem juízo.”

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SOBRE O MAU HUMOR


- Pai, a gente pode trocar de padrinho?

- Que é isso, filha?

- Eu quero que o Luiz seja meu padrinho.

- Mas seu padrinho é o Luiz....

- Né esse não, pai, é o outro, o gordinho!

- Ora, filha, mas por quê?

- Ele gosta de mim, brinca comigo, me dá presente, vem aqui só pra me ver. O outro, que você vive me falando, acho que nem conheço mais. Ah, e nem ele me conhece! Deve ter me visto no batizado e nunca mais!

- Não! Ele já te viu, sim.

- Quando?

- É...é...é,...

- Tá vendo? nem você se lembra mais!

- Olha, vamos fazer o seguinte, você adota o outro e fica com os dois, tá bom?

- Não, não e não! Eu quero é só o gordinho. E pronto!

A menina tinha nove anos e acabou conseguindo trocar num acordo meio espúrio com o pai, através da promessa de nunca contar para o renegado caso ele algum dia aparecesse.

Sabe o mau humor? Não estou falando desses momentos de desvio de rota de nossas bem intencionadas vontades, desejos, dos imprevistos e dos inesperados fatos que nos tiram do sério. Nem do cansaço que bate de vez em quando e não há nada que nos alegre. Momentaneamente. Momentaneamente.

Existem umas pessoas cujo mau humor parece entranhado feito aquelas outras que de tanta alegria, riem até da desgraça. Não os tolos. Os alegres e de bem com a vida, faça tormenta ou calmaria.

O compadre era dos primeiros, dia e noite, noite e dia, entra ano e sai ano. Nada havia que não desse queixume, chororô. No fundo, para ele, ninguém prestava, trabalho nenhum era bom. Não havia profissional que fizesse coisa igual ou sequer parecida com ele. A desconfiança era seu cartão de visita a qualquer conhecimento novo, pessoas novas, situação nova. Tinha sempre, na ponta da língua um gume afiado de palavras de desalento, de descaso com o outro. Foi numa tentativa de aproximá-lo mais de alguma alegria que deu a menina para batizar. Gostava dele, apesar de tudo. Seu mau humor não chegava a induzi-lo à maldade. Já eram amigos há tantos anos... Quem sabe a menina na sua inocência imaculada dos primeiros anos de vida não lhe trazia alguma razão pra ver a vida com olhos sem amargura?


A menina agora é uma mulher de vinte e dois, feliz da vida com o Luiz (o gordinho). Da última vez que encontrou o compadre na rua, já tinha mais de dez anos que não se viam. Um abraço forte, caloroso. Mas aquela cara de desânimo.

- E ai, compadre, como vai a vida? Há quanto tempo não nos vimos...

- Pois é, rapaz, to lá ainda naquela merda de emprego. Ficam me perseguindo o tempo todo. Uns incompetentes.

- E o casamento?

- Uma porcaria. A mulher não ajuda, sabe como são as mulheres, né? Tô cansado, querendo mudar de emprego, a vida tem sido tão difícil, ganho pouco, a minha chefe só promove quem não merece... No mais tá tudo mais ou menos. E você?

Depois de tanto tempo uma recepção “calorosa” assim não tinha outra reposta:

- Bom compadre, eu tô atrasadíssimo, minha filha ta me esperando para um almoço (nem perguntou de sua ex-afilhada). Anote meu telefone novo ai. Me ligue depois para a gente marcar uma conversa. Foi um prazer revê-lo. Tchau!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

“A vida é esta. Subir Bahia, descer floresta”*



Aqueles “olhos de cigana obliquia e dissimulada”, aqueles “olhos de ressaca”, já os tinha visto em algum lugar. Eu já tinha lido Dom Casmurro mas não associei a minha doce Rosly a Capitu. Só vim me lembrar muito mais tarde quando já a tinha perdido para sempre. Ah, se pudesse ter lhe ajudado em alguns penteados como o Bentinho com sua Capitu e continuado o romance... Pelo menos até onde eles foram tão felizes!


Talvez se eu tivesse arranjado uma fala convincente (mais para sua mãe). Eu era pobre, de descendência negra, inaceitáveis predicados para minha ex-quase sogra entregar sua única e mimada filha. Rosly ficou como uma nódoa em meu brio sentimental. Não pude, fora das evadidas que dávamos, concretizar um amor que devotei tão puro e casto e que contrastava com minha adolescência lasciva.


Já seu pai fazia gosto. Me ensinou até a tomar um uísque impensável para as minhas possibilidades à época. No fundo eu acredito ter sido um filho que ele houvera gostado de ter. Se me juntasse á sua filha seria uma forma de compensar a frustração, hoje eu penso. Eu é que sentia.

A megera me tratava bem, dava de comer do melhor que tinha, me achava inteligente e arguto. Desde que não passasse dos limites da amizade juvenil com sua menina brinquedo. Isso que sua filha lhe servia. Um brinquedo para lhe suprir a solidão da indiferença do marido.


Nossos dois anos de convivência no segundo grau eram de inseparável companhia, na aula, no almoço e nas tardes de estudo que se confundiam entre cálculos, atração de pólos elétricos, amassos físicos e uma química perfeita. Nosso curso era de eletromecânica num colégio técnico. Nossos estudos eram pura anatomia de corpos sem mecânica nenhuma.

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Rua da Bahia é uma rua de Belo Horizonte. É uma das mais conhecidas vias da capital mineira. Localizada na Região Centro-Sul, corta os bairros Centro/Floresta e Lourdes, e serve de limite para a Praça da Savassi. Tem importância histórica e cultural. Já foi palco de manifestações políticas e objeto de diversas crônicas e poemas, de autores mineiros e nacionais.

* O compositor Rômulo Paes é o autor da frase. É a rua onde morava a personagem da crônica.

domingo, 23 de agosto de 2009

TRABALHO INFANTIL

Eu tô tentando fazer uma crônica sobre o trabalho infantil. Fico imaginando uma forma de dizer umas coisas de modo que não seja confundido com defensor da prática e abominado pelos meus poucos leitores, de quem eu gosto e prezo muito. E das crianças também eu gosto demais. É que atualmente a gente mal pode chamar atenção dos filhos pequenos de forma mais ríspida, falar de respeito, de bons modos em público. É risco iminente de ser confundido com uma pessoa cruel, ser ameaçado de linchamento ou de conselho tutelar ou ainda polícia, diante de uns mais exaltados.


O fato é: eu vendi picolé e engraxei sapatos na minha infância, a partir dos 10 anos mais ou menos. Ufa! Falei. E já que falei, é bom dizer também que já lavei uns carros de cunhados e tios para ganhar uns trocados. Ajudava também o seu Mindinho, coitado, todo fim de tarde vinha bêbado cambaleante para casa e a meninada o ajudava a subir o morro e chegar inteiro em troco de umas moedas. Ele nunca recusava, coitado. Seu Mindinho era um homem muito bom, pai do meu colega de escola.


Só mangas que eu não vendia. Lá em casa tinha dois pés enormes e minha mãe não deixava vender de jeito nenhum. Era dádiva da natureza, - ela dizia - tinha que dividir com quem viesse pedir. Mas do picolé acho que sabia. Tanto que ameaçava a mim e ao meu irmão: - Se vocês passarem aqui na porta vendendo alguma coisa, vão levar uma boa surra! Os outros trabalhos que fazíamos a gente não contava nada.


Ora, nove irmãos numa mesma casa! A diferença entre o mais velho e o mais novo era de treze anos apenas. Então, já viram a escadinha, né? É muita demanda infantil além das obrigações de dar comida, roupa e escola. Os trocadinhos que a gente queria ganhar era para não ter que pedir ao pai (se bem que não fazia diferença, não ia ter mesmo!). Era para poder ir ao circo de vez em quando, ao cinema, comprar umas revistinhas em quadrinhos. Um kichute novo para jogar bola e as guloseimas no boteco da dona Maria Gorda. Paçoca, pé de moleque, maria mole, pirulitos, balas e chicletes. Coisas básicas.

Tinha uns trabalhos infantis que eu não gostava de jeito nenhum, mas fazer o quê? Matar a minha mãe de tanto trabalhar? Tinha que arrumar a própria cama, lavar o prato em que comi, passar uma vassoura na casa e no quintal, buscar lenha no mato (é, tinha fogão a lenha) e outros trabalhos que criança nenhuma gosta de fazer.


E sabem que olhando hoje para trás eu não me senti explorado? Aprendi até a cozinhar! E ainda tomei tanto gosto pela coisa que a cozinha é meu lugar predileto. Enquanto não estou aqui falando de trabalho, tô lá, trabalhando para alimentar a mim e a minha família, com um prazer que dá gosto de ver (e de provar, já me disseram).

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SONHAR É BOM E CONSERVA OS DENTES

SONHO DE ASSALARIADO

“Somos quem podemos ser...

Sonhos que podemos ter...” (HG)

Bem que me disseram que as nuvens não eram de algodão! Estava com tudo preparadinho para realizar meu terceiro serviço de subordinação social da vivência.


Já tenho filhas, já plantei uma montoeira de árvores, só estava faltando o livro. Pronto está. Editora que interesse não há. Resolvi então, eu mesmo plantar essa semente no meio das prateleiras altas da multidão, onde pouca gente se arrisca a ter o prazer de subir para ler alguma coisa.


Juntei um dinheirinho para pagar a edição daquele que seria o meu primeiro livro. Nunca tive habito de juntar dinheiro. Depois de certo patamar atingido na vida, resolvi guardar algum para uma emergência. Vai-se ficando mais velho e os pensamentos de ocorrências médicas vão se tornando companhia mais freqüente no dia-a-dia. Porém nada de exorbitâncias. O plano de saúde cobre desde frieira até câncer de próstata. Então era só mesmo para um caso de ocorrer algo muito inusitado. Também há outros imprevistos, como, por exemplo, quando a filha resolve casar de uma hora para outra.


Ou então uma fincadinha na gengiva à noite parecendo coisinha à toa. E eis que atravessou no meu trajeto para o prelo um dentista e me avisou do meu demorado e dispendioso, raríssimo e inovador tratamento dentário. Uma nota preta.


É, dizem que sonho que se sonha só é só um sonho...

E assalariado vive de sonho...adiado.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TRABALHAR E COMER


Os glutões, nossos ancestrais tinham uma relação voraz com o alimento. Não importava muito qual fosse ele. Saciar a fome era garantia de mais um dia vivo. Portanto não primavam muito pela seleção. É verdade também que não havia muitas opções. Temperos então, o que dizer? Mas também não havia culpa com relação à quantidade nem com estética corporal. Sendo o suficiente para repor energia estava bom demais. Afinal, depois iriam precisar sair à caça novamente. E era também esse o seu trabalho. Os aperfeiçoamentos que vieram com o tempo foram no sentido de melhorar seus métodos e diminuir os esforços para adquirir seu produto alimentar.


O trabalho, na medida do desenvolvimento relacional com a natureza foi ganhando gosto e especialização. Com isso o prazer ia aumentando. O homem descobrindo que com um instrumento novo, conseguia obter com mais facilidade os meios necessários para a sua subsistência.

Os preguiçosos (que devem ter gerado os invejosos) passaram a disputar o produto tecnológico que o outro inventou e a disputa ferrenha entre os homens passou a ser não só pela comida, mas também pelos meios mais fáceis de consegui-la.


Bom, de lá para cá, muita coisa se passou e muita gente conhece essa história de como chegamos à mesa com toda a sofisticação moderna, com as culpas que vieram junto do ato de comer e do tédio provocado pelo trabalho. Desde que o homem deixou de fazer para si, com gosto e teve que se sujeitar ao outro e ficar apenas com uma parcela de sua produção, trabalhar e comer não tem mais o mesmo charme lá das cavernas.


O que botamos para dentro e o que botamos para fora?

As angústias decorrentes desse processo histórico, antropológico e sociológico resvalam no estômago e nas crises decorrentes da insatisfação com o labor. Para dentro, enviamos alimentos que nos causam prazer momentâneo e culpa imediata. Alguns colocam outros agentes, menos alimentares e mais tóxicos em sinal de rebeldia. Mas é opcional. Para fora, botamos ruminâncias verbais. Alguns colocam balas e outras formas de agressão. Opção ou doença?


Inspirado na crônica PATOLOGIA ASSUMIDA, de Milena Romariz (do Recanto das letras).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - AS ROSAS NÃO FALAM

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - AMIGO É PRA ESSAS COISAS

AOS AMIGOS TODOS.

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

domingo, 16 de agosto de 2009

AS MÃOS

Eu tenho o hábito de culpar minhas mãos por muita coisa errada que faço. Sou estabanado demais da conta! Se deixo cair um copo, de quem é culpa? O choque levado na hora de trocar uma lâmpada simples: quem esbarrou no metal da boquilha? Aquele caldinho que insistiu (e venceu) a boca e foi parar na roupa: quem se responsabiliza?. Na escrita, as falhas de incidência, os erros de ortografia, a falta de concordância: quem vacilou? Se não me ocorre a inspiração, só não bato nelas porque seria uma luta igual e poderia quebrar a ambas.


É isso mesmo. As mãos têm vida própria. Pelo menos as minhas quase nunca estão em sintonia com o pensamento. Abusivamente desobedientes e de uma autonomia de enlouquecer o cérebro. Esse não comanda muito. Costuma ter o coração ainda num posto de hierarquia à frente de si.


Já descobri, por exemplo, que elas pensam diferente quando escrevem à mão (não é redundância, é essa autonomia irritante) e no teclado. Com a caneta não há a preocupação em salvar nada. Ao contrario, só rabiscar e jogar no lixo. Claro que de vez em quando tem que ficar revirando para ver se não fiou algo para trás. Aí é o cérebro que ordena que elas mesmas vão lá buscar no meio daquele monte de papel embolado para selecionar uma frase, uma palavra perdida e que está fazendo falta ao conteúdo do texto. Já no teclado elas costumam se perder. Se fossem daquelas boas de digitação como as que aprenderam nas remotas aulas de datilografia, davam descanso ao cérebro, olhando apenas para o teclado. Mas não, deixam minha cabeça igualzinha à daquele humorista do cara-crachá, tendo que olhar a digitação e o monitor ao mesmo tempo, conferindo.


E nas horas inoportunas? Sabe aquela coceira nos lugares mais inapropriados do corpo no momento mais indevido? Nas filas ou outros aglomerados humanos onde todo mundo censura? É um horror a tentação! Ficar remexendo os quadris para a caceira se resolver sozinha é pior. É coisa de maluco, de quem está passando mal ou é afetado nos modos.


Se tiver que ir a um analista por causa de manias, a primeira coisa que quero dizer é sobre o papel das mãos. A influência que elas exercem sobre nós. Contra a vontade ou favor, não importa. Não há mente equilibrada que controle as suas mãos para que obedeçam a todos os seus comandos. As mãos não têm esse equilíbrio que todos buscamos. Ou são submissas ou são rebeldes. Ou ainda uma mistura das duas coisas.

Aposto que as suas acabam de se virar para os seus olhos!


ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

sábado, 15 de agosto de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - A FLAUTA MÁGICA

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - A ESTRADA E O VIOLEIRO

PARA MIM, SIDNEY MILLER, SE NÃO TIVESSE ENCANTADO TÃO NOVO, SERIA MAIS CHICO BUARQUE A NOS BRINDAR COM MUITO MAIS POESIA MUSICAL. SUAS LETRAS SÃO MARAVILHOSAS.

UMA ÓTIMA SEMANA

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A ESTRADA E O VIOLEIRO

Sou violeiro caminhando só, por uma estrada caminhando só
Sou uma estrada procurando só levar o povo pra cidade só
Parece um cordão sem ponta, pelo chão desenrolado
Rasgando tudo que encontra, a terra de lado a lado
Estrada de Sul a Norte, eu que passo, penso e peço
Notícias de toda sorte, de dias que eu não alcanço
De noites que eu desconheço, de amor, de vida e de morte
Eu que já corri o mundo cavalgando a terra nua
Tenho o peito mais profundo e a visão maior que a sua
Muita coisa tenho visto nos lugares onde eu passo
Mas cantando agora insisto neste aviso que ora faço
Não existe um só compasso pra contar o que eu assisto
Trago comigo uma viola só, para dizer uma palavra só
Para cantar o meu caminho só, porque sozinho vou à pé e pó
Guarde sempre na lembrança que esta estrada não é sua
Sua vista pouco alcança, mas a terra continua
Segue em frente, violeiro, que eu lhe dou a garantia
De que alguém passou primeiro na procura da alegria
Pois quem anda noite e dia sempre encontra um companheiro
Minha estrada, meu caminho, me responda de repente
Se eu aqui não vou sozinho, quem vai lá na minha frente?
Tanta gente, tão ligeira, que eu até perdi a conta
Mas lhe afirmo, violeiro, fora a dor que a dor não conta
Fora a morte quando encontra, vai na frente um povo inteiro
Sou uma estrada procurando só levar o povo pra cidade só
Se meu destino é ter um rumo só, choro em meu pranto é pau, é pedra, é pó
Se esse rumo assim foi feito, sem aprumo e sem destino
Saio fora desse leito, desafio e desafino
Mudo a sorte do meu canto, mudo o Norte dessa estrada
Em meu povo não há santo, não há força, não há forte
Não há morte, não há nada que me faça sofrer tanto
Vai, violeiro, me leva pra outro lugar
Eu também quero um dia poder levar
Toda gente que virá
Caminhando, procurando
Na certeza de encontrar

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

BOAS MENTIRAS

Eu fiz xixi na cama até os doze anos. Não é mentira. Mentira foi o que me disse a Dona Mariinha, a comadre da minha mãe. Ninguém me entendia, ninguém me perdoava. Chorando em seu colo, veio a paz da cura, gotas de palavras injetadas na veia:

- Meu filho, olha a minha idade! Até hoje, de vez em quando ainda faço. Quis ser solidária, acabou sendo remédio. Nunca mais mijei.

Ensinam os bons manuais de comportamento humano e transmissão de caracteres antrópicos, que a mentira tem perna curta, que é feia, que desvirtua o caráter, que é isso, que é aquilo...

Mas, atire a primeira pedra. E com força e pontaria certeira quem não cometeu esse desvio moral aceito como paradigma universal? Ela é tão presente em nossas vidas que tem vezes que duvido da verdade. Todo mundo duvida. Já ouviu notícia boa? Já reparou nas respostas e nas caras de surpresa?

-Mentira! Sério?

- Não, você está brincando...

- Duvido!

Como dizer a seu filho ou filha de cinco, seis anos que papai Noel não existe? Que é o papai ou a mamãe de verdade, barrigudo ou não, barbado ou não, quem compra o presente de natal? Mentira? Para o bem da imaginação e capacidade futura de não perder sonhos nem fantasiar. A vida depois é dura.

Houve um período no Brasil que quem possuía carro ficava esperando todos os dias o Delfim Neto aparecer no jornal da televisão e dizer que a gasolina não ia aumentar de preço. Todos largavam o que estivessem fazendo e iam para a fila no posto mais próximo. Os postos fechavam cedo, ao anoitecer. De manhã, as bombas já estavam todas reajustadas. Acho que foi ai que nasceu o primeiro de abril, sei lá. Mas era uma mentira do mal.

Verdade seja dita: se não causar dano e for em benefício geral, diga a todos que minto.

ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

PELÉ E O POVO VOTANDO

Pelé dentro das quatro linhas foi o maior gênio que o futebol mundial já produziu em todos os tempos. Não é mais unanimidade mas continua rei por absoluto merecimento. Surgiu muita gente boa depois dele, mas não o alcançaram, mesmo que não queiram os que desmoralizaram a unanimidade. Pode aparecer, mas ainda não apareceu. Fora das quatro linhas tentou aumentar a sua genialidade. Às vezes se deu bem, outras, nem tanto, outras ainda se deu muito mal.

Além da corrupção, do futebol, do carnaval e da mulherada bonita, Pelé, talvez seja o “evento” que mais fez o Brasil se tornar conhecido mundialmente.

Um dia, Pelé resolveu dizer que o brasileiro não sabia votar. Quase bota a perder a sua credibilidade diante dos incrédulos brasileiros que acharam que o melhor mesmo era ele se vangloriar dos seus feitos dentro dos gramados e manter-se calado. Já estaria falando bobagens. Com aos pés ele seria infinitamente melhor do que com a boca.

Fico matutando hoje se a sua genialidade não extrapolou aquelas quatro linhas dos campos de futebol. Só matutando...

P.S. – Rubem Alves *

“... os ratos entram no quarto dos queijos porque nós, cidadãos, fazemos os buracos. Os ratos estão lá por culpa nossa. Os buracos através dos quais os ratos entram são os nossos votos. Os ratos entram no quarto dos queijos democraticamente... Aqui se encontra a delicadeza e a fragilidade da democracia: para que ela se realize, é preciso que o povo saiba pensar. A presença dos ratos na vida pública é evidência de que o nosso povo não sabe pensar, não sabe identificar os ratos. Não sabendo identificar os ratos, o próprio provo, inocentemente, abre buracos pelos quais eles entrarão.”

* Alves, Rubem: É Preciso Tapar os Buracos dos Ratos. – In: Conversas Sobre Política. Verus Ed. Pág. 31, 32, 33. – 2002.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

À MESA

Minhas filhas já aprenderam e espero que seja para sempre. Costumam não almoçar, jantar ou lanchar se não tiverem companhia à mesa. Minha mulher, nem tanto, nunca se importou muito com essas coisas. Formações diferentes. Acho o máximo da cortesia, da gentileza, da generosidade uma família em torno de uma mesa. E estendo aqui o significado do núcleo Família. Hoje ela é muito mais ampla do que a biológica.


À mesa é fundamental reunir gente que se gosta, que vive junto, que divide as coisas. Pois não diziam que quem come unido permanece unido? Eu ainda acredito nisso enquanto tudo muda. E com toda razão. Se estamos nos tornando reféns do tempo e algozes do seu bom usufruto, ainda pode sobrar um momento onde podemos fazer algo juntos. Nem que seja lavar uma roupa suja, botar pingos em is. Bom mesmo é o momento da reunião.


Comilanças à parte, dá para nos atualizarmos do outro. Para aquela participação de que tanto falavam: “não basta ser pai, tem que participar.” Os mimos do consumo nos dão uma alegria tão grande que ela – a paradoxal alegria - nos separa do outro. Mesmo porque, os únicos produtos de uso coletivo que se faz uso coletivamente numa casa estão na cozinha. Até a tv já virou artigo individual. Na minha infância tinha uma mesa de uns três metros de cumprimento. E toda rodeada por enormes bancos de madeira. Para caber todos. Almoço e jantar ali pelo menos era sagrado que fosse com todos da casa que pudessem estar presentes. Assim foi se solidificando um hábito, do qual na abro mão. Às vezes eu acho que solidão é uma falta de mesa na hora da fome.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

NOTÍCIA-POEMA PELADO

EMPRESA LIBERA FUNCIONÁRIOS PARA TRABALHAR SEM ROUPAS

Esqueça qualquer palestra ou curso de motivação de equipes que você já assistiu. Se você realmente quer motivar um grupo de trabalhadores, basta deixá-los nus. Pelo menos é assim que pensa o dono de uma empresa de marketing e design em Newcastle, Inglaterra.

Parece brincadeira, mas imagine se a empresa em que você trabalha resolvesse pedir para que todos fossem trabalhar sem nenhuma peça de roupa. O escritório decidiu quebrar as tradicionais regras do bem-vestir, orientada pelo psicólogo David Taylor e encorajada pelo chefe. O objetivo é alcançar melhores resultados e impulsionar o espírito de equipe.

O evento, batizado de Naked Friday (sexta-feira nua, em português), foi considerado um grande sucesso. A diretora, Sam Jackson, que tem apenas 23 anos, disse ao jornal britânico Daily Mail que “foi fantástico”. “Agora que nos vimos nus, não existem mais barreiras. Não fomos pressionados. Se quiséssemos vir vestidos ou apenas com a peça íntima, não teria problemas. Mas eu adoro meu corpo e não fiquei envergonhada“, concluiu ela.

Naturalmente, não foi fácil. Durante a semana que antecedeu o acontecimento, os funcionários foram encorajados a levar fotos de partes de seus corpos para torná-los mais confiantes. Um modelo nu também foi levado ao escritório para que eles pudessem interagir e acabassem de vez com a timidez.

Sam acrescentou: “Levou uma semana para que pudéssemos criar coragem. Foi um momento de grande tensão, mas descobrimos que éramos capazes de falar mais honestamente uns com os outros. A empresa melhorou de forma maciça.”

Resta saber se alguma empresa brasileira se interessa pelo método.

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/2009/07/06/empresa-britanica-coloca-funcionarios-para-trabalhar-sem-roupa/

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Não sou bravo nem forte, nem filho do norte.

Mas eu vi

Bundas e peitos em fartura

Lelecas , bililius, soltos sem corte

Relaxados e nada excitados

Apenas desnudos na execução

Meninos, eu vi.

Ninguém assanhado , ninguém “atirado”

Não deu confusão

A chefa, primeira,

tomou dianteira

Mandou todo mundo

ficar peladão.

Gente pelada para todos os lados

Tirando xerox nas repartições

Pra lá e pra cá

Sem frio ou calor

Nenhum arrepio

Nas peles desnudas,

meninos eu vi.

Na hora do lanche, da venda ou almoço

Será que pelados , não deu alvoroço?

E se as visitas, clientes, vizinhos

Achando calientes

Resolvem arriscar?

Um olho em produtos

e outro nos frutos

Que os corpos pelados

Permitem mostrar?

Está funcionando a todo vapor

A firma da turma

Que roupa não usa

Mas que tem valor

Cria, vende, lucra

E ninguém recusa

Meninos, meninas

Que coisa maluca

O que escrevi

É coisa bem séria

Não é para rir

Nem é deletéria,

meninos, eu vi.

domingo, 2 de agosto de 2009

UMA DENTADURA

A dignidade humana não tem uma definição única aceitável como sendo um padrão. Cada época, cada conjunto de valores que permeiam o cotidiano das pessoas estabelece um modelo de dignidade a ser seguido. Pelo menos para a maioria. Essa mesma maioria que é dada a aceitar de bom tom e pouco ruído crítico aquilo que escorre pelos canais de televisão, que rumina das bocas dos entendidos ou poderosos. Vira coisa de todos. O diferente é indigesto. Ou é excluído, ou é marginalizado, ou é ridicularizado. Para clarear esse nublado pensamento, exemplifico com a modernidade.

A dignidade padrão da atualidade é medida pela quantidade de bens que consumimos. Quanto mais coisas se pode ter, mas se é considerado digno. Já houve ocasiões em que ética, moral, bons costumes, conferiam alguma dignidade pública. Agora, no máximo uma admiração tímida e velada. Nada que possa ser alardeado. A menos que esteja em companhia de dinheiro ou fama.

Pois bem, o Seu Zé Antônio tinha uma dentadura. Um par, exatamente. Dessas tratadas a água potável na hora do descanso noturno para higienização e repouso das mandíbulas oprimidas o dia inteiro. Fazer o quê, é preciso sorrir com dignidade! Sem contar que também se faz necessário mastigar.

Ele foi à fossa fazer sua eliminação das coisas mastigadas e demorou demasiado. Peão de obra não pode demorar no banheiro. Mas a demora estava preocupando acima da implacável punição àqueles que fazem corpo mole ao pesado serviço de obra. Podia ter se sentido mal. Seu chefe era um pouco condescendente com ele. Sabia de sua dignidade profissional, já trabalhavam juntos há muitos anos. Foi lá uma comitiva conferir. Batem à porta e ele sai, então, cabisbaixo, quase num choro convulsivo. A dentadura havia caído lá embaixo, enquanto ele fazia força para defecar. Teve uma vergonha enorme que chegou a lhe causar confusão mental. Não sabia se resolvia sozinho ou se pedia ajuda. Manchara a sua dignidade de cal e fezes. Embora não tivesse dinheiro para mandar fazer outra. E, diante da vergonha e da necessidade optou pela necessidade. Arranjou uma escada, desceu em meio à cal que cobria o odor das fezes múltiplas e buscou a dentadura. Colocou-a num copo com álcool. Ali ficou até o fim do expediente se purificando. Acreditou estar esterilizada após uma lavada em forte jato de água com sabão e recolocou a sua dignidade na boca.

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