domingo, 22 de março de 2009

AEDO CIBERNÉTICO - HISTÓRIA COM MÚSICA

Dentre as muitas formas de resistência às condições de vida e de trabalho da maioria da população brasileira, seja sob a monarquia, seja sob a república, uma revolta marcante foi a da vacina, em 1904, quando Oswaldo Cruz tentou imunizar a população do Rio contra a varíola e febre amarela. Sem aviso prévio, invasivamente e sem nenhuma campanha esclarecedora. Uma tentativa de erradicação e uma revolta contra a profilaxia.

A outra (1910) foi a dos marinheiros que ficou conhecida como a Revolta da Chibata, contra maus tratos aos tripulantes dos navios da marinha brasileira. O líder era o marinheiro João Cândido, também conhecido como Almirante Negro. Ameaçavam bombardear a cidade, se não fossem atendidos. ( a maioria era de negros).

Houve uma relativa vitória dos insurgentes, pois os castigos físicos foram abolidos um dia após a Proclamação da República mas foram restabelecidos no ano seguinte (1890):

"Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo."

(J. M. Carvalho – Os Bestializados).

Foram violentamente reprimidos e o governo não cumpriu a promessa de acabar com a situação, prendendo os líderes e enviando outros para a floresta amazônica. O Almirante Negro foi expulso da Marinha e internado como louco.

Vejam essa pérola de música para ilustrar esse momento histórico que o compositor João Bosco produziu.

Reproduzo a letra no original, pois a que aparece no vídeo contém muitos erros.

O MESTRE SALA DOS MARES

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

7 comentários:

Devaneios disse...

adorei! acho muito importante esses textos que falam do nosso passado, as revoltas, do tempo em que as pessoas viam as coisas erradas e lutavam para mudá-las, sem medo. Para onde será que foi a coragem do nosso povo? Abraços.

Anônimo disse...

"O Almirante Negro foi expulso da Marinha e internado como louco."

Típico, não é? Descrédito total perante a população da época e para a história. Felizmente temos registros que comprovam que as coisas não são bem assim como as autoridades da época passavam...

E ainda mais em se tratando de um negro.

Bacana esse texto, rapaz! Gosto de história, principalmente de fatos que são considerados "desimportantes" demais para figurarem nos livros didáticos.

abs!

Ana Leticia disse...

Adoro este samba! E com a história contada em miúdos, fica ainda mais interessante... Me lembro q um livro de história do 2° grau do colégio, tb a trazia como ilustração. :)
Bj
Ana Letícia
www.mineirasuai.blogspot.com

Anônimo disse...

Que legal Cacá !, este seu canto, um encanto de canto, voltarei sempre.
Um grande abraço !

Aliz de Castro Lambiazzi **jornALIZta** disse...

Cacá, o que é isso? Será que você pode me explicar???
É história? É poesia? É informação? É cultura simplesmente?
É um pouco de tudo, como você se propõe a fazer, querendo ou não. Você faz mais do que escrever bem, você constrói mensagens tão bem feitas que, além de serem facilmente compreendidas e absorvidas,cumprindo o digno papel social de acrescentar ao demais, você dá a cada palavra um alcance inimaginável, incrível.
Adorei esse post. Adoro o seu blog e o seu jeito de escrever e de ser, que a gente vem compartilhando lá no boteco. Parabéns!
Um beijo...

Anônimo disse...

Cacá o texto é fino, mas o título nem tanto. Para falar a verdade tive que consultar no dicionário para saber que verso épico é "aedo", eu sugeriria a vc, sinalizar com um asterisco e dar uma nota de rodapé. Muitos leitores lêem o título para ver se o texto interessa, se não entendem o título desprezam o conteúdo. Eu fiz o teste no meu trabalho.

Ana Leticia disse...

Poxa, interpretou muito bem o tom do meu texto! Nostálgico sim! O escrevi passando os olhos nos textos de 2 anos atrás... E relembrando passagens vividas, alegres e nem tanto. Ainda bem que o mundo dá vooooooltas! rs
Inté mais ler!
Ana Letícia
www.mineirasuai.blogspot.com

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