As muitas Minas de Guimarães Rosa e nossas podem ser constatadas por quem quiser viver como se estivesse em vários países, sem sair do próprio Estado. Essa Minas é grande demais da conta! E diversa também. Só entre o norte e o sul, tomando Belo Horizonte como referência, basta botar reparo nos lugares, situações e costumes para se sentir em casa e estrangeiro ao mesmo tempo num raio de algumas léguas para riba ou para baixo.
Duas viagens para um trabalho de seleção para qualificação de jovens, que os criadores da marginalização convencionaram chamar pelo eufemismo de jovens em risco social. Primeiro, Araçuaí, 700 quilômetros de BH, em direção ao norte, no Vale do Jequitinhonha. Pela janela do ônibus na espiada da paisagem a partir de Curvelo ou Diamantina, começa-se a notar a transformação no colorido da paisagem. A gente sai do verde para o cinza seco, com poucas folhas e muitos gravetos, gado magro. E, se observar sob as pontes onde sempre há uma placa que é sobre tal ou qual rio ou córrego, só se vê, na maioria dos casos, a trilha arenosa por onde um dia passou água. O sotaque é uma mistura sonora de baiano com mineiro, tanto quanto as comidas com farinha e pimenta de acompanhamento natural e necessário como sal e açúcar para nós.
Belo Horizonte por ser uma cidade relativamente nova para os séculos todos de Minas, não conseguiu criar uma identidade cultural que influenciasse o interior mais distante. As referências para os moradores das localidades mais próximos de outras divisas como RJ, SP e BA, são as capitais e costumes desses estados. Capitais inclusive tão antigas como o estado de Minas. São Paulo, Rio e Salvador têm idade para serem avós de BH.
Depois, não muito tempo, outra viagem, dessa vez para Poços de Caldas, 450 quilômetros para baixo, pertinho de São Paulo. Aqui, ô meu, cê pode olhar para debaixo das pontes pela janela do ônibus, que tem água mesmo, muita plantação verdinha de café pelo caminho e um gado gordo que minha boca ficava cheinha de água pensando naqueles cupins, naquelas picanhas... O gosto pela pizza na noite revela um peso paulistano nos costumes e na barriga. A fala tem aqueles erres engripados que chamamos de caipira. À noite, em um restaurante passava um jogo de futebol (paulista, diga-se) na televisão e resolvi descontrair e também provocar meus colegas atleticanos, fazendo um rápida enquete entre os presentes da cidade em tom alto: Aqui a maioria torce pelo Cruzeiro ou Atlético? Uma jovem aluna entre os outros que nos acompanhavam, defendeu-se:
- Que isso, mano, aqui é tudo Corinthians, Palmeiras, São Paulo...
- Mas e os times mineiros?
- Moço, aqui para nós, passou de Belo Horizonte para cima já é tudo baiano.
- Uai?
Duas viagens para um trabalho de seleção para qualificação de jovens, que os criadores da marginalização convencionaram chamar pelo eufemismo de jovens em risco social. Primeiro, Araçuaí, 700 quilômetros de BH, em direção ao norte, no Vale do Jequitinhonha. Pela janela do ônibus na espiada da paisagem a partir de Curvelo ou Diamantina, começa-se a notar a transformação no colorido da paisagem. A gente sai do verde para o cinza seco, com poucas folhas e muitos gravetos, gado magro. E, se observar sob as pontes onde sempre há uma placa que é sobre tal ou qual rio ou córrego, só se vê, na maioria dos casos, a trilha arenosa por onde um dia passou água. O sotaque é uma mistura sonora de baiano com mineiro, tanto quanto as comidas com farinha e pimenta de acompanhamento natural e necessário como sal e açúcar para nós.
Belo Horizonte por ser uma cidade relativamente nova para os séculos todos de Minas, não conseguiu criar uma identidade cultural que influenciasse o interior mais distante. As referências para os moradores das localidades mais próximos de outras divisas como RJ, SP e BA, são as capitais e costumes desses estados. Capitais inclusive tão antigas como o estado de Minas. São Paulo, Rio e Salvador têm idade para serem avós de BH.
Depois, não muito tempo, outra viagem, dessa vez para Poços de Caldas, 450 quilômetros para baixo, pertinho de São Paulo. Aqui, ô meu, cê pode olhar para debaixo das pontes pela janela do ônibus, que tem água mesmo, muita plantação verdinha de café pelo caminho e um gado gordo que minha boca ficava cheinha de água pensando naqueles cupins, naquelas picanhas... O gosto pela pizza na noite revela um peso paulistano nos costumes e na barriga. A fala tem aqueles erres engripados que chamamos de caipira. À noite, em um restaurante passava um jogo de futebol (paulista, diga-se) na televisão e resolvi descontrair e também provocar meus colegas atleticanos, fazendo um rápida enquete entre os presentes da cidade em tom alto: Aqui a maioria torce pelo Cruzeiro ou Atlético? Uma jovem aluna entre os outros que nos acompanhavam, defendeu-se:
- Que isso, mano, aqui é tudo Corinthians, Palmeiras, São Paulo...
- Mas e os times mineiros?
- Moço, aqui para nós, passou de Belo Horizonte para cima já é tudo baiano.
- Uai?
0 comentários:
Postar um comentário