quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

DESIDERATU

Tá quase virando! Daqui a algumas horas começa a acontecer o inevitável. Aquele inevitável que vem com o aproximar da meia noite. Por mais compromissos, por mais ansiedade, por mais que a expectativa não seja lá muito grande, o pensamento vem. A nostalgia vem. O desejo vem. É o tal do balanço. Tirar e colocar pesos. Vontade de deixar malas pesadas para trás e carregar sonhos que caibam todos em um só ano.
Talvez seja a data em que mais sonhamos com um poder. Não é poder político, nem econômico. É uma forma de pensar tudo acontecendo a partir da vontade. Esforçamos a pensar que vamos fazer o impossível, mas gostaríamos mesmo era que, ao acordarmos no dia primeiro, já começassem a acontecer coisas que pelo menos nos indicassem que os sonhos estarão ao nosso alcance, feito matéria de se pode tocar. Os males estarão desfeitos, aquele plano vai, enfim, se realizar; a saúde vai estar inabalável ou melhorada mais ainda; a felicidade, ah! a felicidade, que encerra todos os desejos do mundo e fecha nosso insistente pensamento, vai deixar de ser uma meta para virar companhia onde quer que vamos e estejamos no ano seguinte. Essa tal felicidade de cada um, definida por quem a busca, sem que nada interfira (a não ser a favor); que às vezes quando chega, já não mais satisfaz porque a procura mudou, a vontade cresceu ou a necessidade mandou dizer que era mais um pouco.
E para terminar, terminar não! Não consigo, nem tem graça. Senão não é sonho.

Para continuar então, divido com você.
Paz e Bem em 2009.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

MARIA DELFINA

Mãe, a senhora vai fazer mesmo é 76 ou 77? Tinha o hábito de esconder umas coisas de nós quando crianças, para proteger ou sei lá pra que... Dizem que a senhora mudou a idade para entrar na escola antes do tempo. Só lembro de ver em sua identidade o ano de 1931. Tinha lá também a origem: Cuiabá. Nem olhava a unidade da federação, mas achava muito chique pensar que a senhora tinha nascido em outro estado. Falava pra todo mundo que a minha mãe era de Mato Grosso. Outra descoberta tardia, mas alegre ao mesmo tempo: saber que tenho, além do sangue lusitano, um pouquinho de africano, italiano e índio botocudo. Que mistura boa virou essa nossa família! Foi bem recentemente que eu e o Thiago, seu neto de enfrentar, passamos nesse lugarejo chamado Cuiabá, ali, entre Caeté, Sabará, Nova lima e Raposos, bem abaixo da Serra da Piedade. Tinha lá antes de o progresso expulsar, uma tribo dos botocudos que remontam suas origens e as nossas. Fico pensando se o fato de a senhora gostar tanto, tanto de ir para o Espírito Santo na praia era motivado pela facilidade de transporte e preços mais em conta da colônia de férias do sindicato ou se tem a ver com um retorno às suas raízes. Contam uma história, que os botocudos vieram para Minas expulsos daquele estado e foram se espalhando pelo Brasil afora, mas a maioria se fincou aqui nas Gerais.


Mãe, o estoque de sua presença em nossas vidas não se esgota. Seja nas bravezas, nas carícias, nos ensinamentos, nos olhares que falavam ou nas palavras que calavam; acho que nunca vão ser esquecidos nem mesmo por aqueles de nossa descendência que nem te viram em vida. Maioria deles fala e pergunta de você como se estivesse aqui ainda entre nós. A senhora ultrapassou os limites que são reservados aos simples mortais.


Eu não te homenageio no dia das mães, não, que isso pra mim é coisa inventada para vender presente. A gente sempre comemorou o seu dia junto com o Natal e é tão bonito! Até hoje dá para ver direitinho a sua cara de satisfação diante de toda a família reunida. A senhora até tomava uns vinhos de leve para poder soltar mais o seu afeto e esquecer a dura trabalheira dessa cria enorme. E ainda comia bastante aquelas coisas que não podia por causa da pressão alta e do diabetes, mas dizia que se morresse, ia ser de felicidade e barriga cheia.


Nós continuamos a fazer as festas na comilança e bebedeira, mas falta a Senhora, falta o Zé João e sempre tem faltado um ou outro. A Senhora mesmo dizia que isso ia acontecer. Mas um que falta numa festa, às vezes tá em outra e assim vamos nos encontrando todos para dar um drible nessa sua predição e matar as saudades, claro. Tantos filhos que deixou e tantos netos, que muitos a senhora nem chegou a conhecer de perto. Estivesse a senhora aqui, já ia estar de bronca até com os bisnetos. Eles tão uma belezura, que só vendo. Eu também estou vivendo uma nostalgia danada, tentando conservar algum viço, já que a senhora vivia me iludindo, dizendo que eu parecia com o Kadu Moliterno, da televisão. Fala sério, né, mãe, era ou não era só para me agradar? Tem uma turma aqui que diz que tô mais para Cauby Peixoto. Se a Senhora ouvisse uma barbaridade dessas, soltava os xingos nesse povo de olho torto, tenho certeza.


Qualquer que fosse a idade, o seu aniversário é especial demais. Olha o dia!


A sua bênção para sempre.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O QUINTO ELEMENTO

Embarquei na rodoviária de Araxá, num ônibus que vinha de Uberaba para Belo Horizonte. Paramos na cidade de Luz, naqueles restaurantes caríssimos onde uma água pode lhe custar o preço de um pedágio nas mais caras rodovias do mundo. Dois amigos suspeitos, um casal insuspeito, um bêbado insuspeitíssimo vestindo um enorme blusão grosso e cheio de bolsos, apesar do intenso calor. E a polícia. Eis o quadro com que deparei na volta do banheiro. Havia desistido da água a R$3,50, um roubo!

Entraram os policiais no ônibus, revistaram os dois suspeitos, mandaram o trocador abrir o bagageiro, retiram suas malas (muitas) e reviraram tudo, a ponto de rasgar dois travesseiros que estavam no meio das coisas. Alguém havia denunciado que havia drogas. Quase uma hora de procura e a decepção de todos os curiosos e da polícia diante do fiasco. Liberada a viagem, os suspeitos, muito educados, se desculparam com o motorista e os demais passageiros pelo transtorno. Cada um sentou em poltrona separada, inclusive o casal, que já não trocava mais carinhos insuspeitos diante da cena da revista.

Chegando ao destino, antes da rodoviária, eis que descem todos os cinco no mesmo ponto de parada numa animada conversa e o bêbado(?) completamente são, mas com a mesma blusa. Acho que estava recheada. Eis o golpe do quinto elemento.

Lembrei-me de uma crônica do Fernando Sabino: uma velhinha passava todos os dias pela alfândega montada numa moto com um saco de areia na garupa. Até que começou a incomodar a fiscalização. Todo mundo ficava intrigado e resolveram abordar a velhinha. Era areia que havia. Todos os dias conferiam para ver o conteúdo do saco. Areia. Um fiscal insistia que ali tinha coisa. E tinha mesmo: areia. Cansados, mas não vencidos um dia resolveram lhe perguntar o que ela contrabandeava, com a promessa de que nada fariam contra ela. Era moto.

domingo, 14 de dezembro de 2008

CULINÁRIAS HILÁRIAS - FEIJOADA

Religiosamente eu diria que a fome é um pecado. Não cometido por quem a possui, mas por quem a provoca. E ela acaba operando milagres, numa espécie de contradição dos preceitos divinos. Mas o que seria da crença do homem em Deus se não fossem as suas contradições, não é mesmo? Explico o caso.

Havia no sábado nebuloso (descrevo o tempo porque não posso ver o céu escurecendo ou um ventinho mais frio que dá vontade de comer feijoada), comprado todos os ingredientes para uma completa no dia seguinte. Uma pausa: as chamadas ‘feijoadas completas’ dos restaurantes ganharam adjetivo por causa dos acompanhamentos; que para um cozinheiro que se preza não passam de obrigação – arroz, laranja, couve, farofa e, claro, caipirinha. Para quem admira, a feijoada completa mesmo é aquela que diziam na minha terra: leva até a tábua do chiqueiro no seu preparo.

Então veio tudo separadinho e salgado. Do rabo ao focinho do porco, só não vieram os pelos. Já comecei a preparar o apetite no sábado, fazendo a concentração como jogadores de futebol em véspera de jogo. E esqueci de deixar os ingredientes em molho de água. E tomei bastante caipirinhas a ponto de ficar sem sal nos miolos no dia seguinte.

Ai vem o ritual: picar tudo direitinho e preparar, sem segredo, o manjar dos mineiros. E mais caipirinha porque rituais não podem ser profanados.

Na hora de comer ninguém suportou de tanto sal. Eu havia colocado ainda mais tempero, como se fizesse uma comida normalmente. Dizem que nosso apetite é regido pela sequência (já estou estreando sem o trema) olfato, visão, paladar - nessa ordem. Os dois primeiros sentidos ficaram perfeitamente atendidos, o paladar, intragável.

Agora vem a solução pela fome. O Vinicius, grande amigo e morador de uma das repúblicas da universidade local (isso foi na cidade de Mariana), chegou no momento em que me preparava para jogar tudo fora. Pediu se poderia levar para sua casa, resistindo aos meus argumentos sobre a impossibilidade de se digerir comida tão imprópria para o consumo humano saudável. Cedi diante do imponderável.

Na sei que milagre ele realizou para ‘consertar’ a feijoada ou se mentiu no dia seguinte ao retornar com a panela lavada, dizendo que havia sido um banquete para seus colegas república.

sábado, 6 de dezembro de 2008

UM GRITO

Como um pêndulo, o mundo oscila em seu momento mais trágico, cômico também. Perdemos dinheiro em bolsas, perdemos dignidade na Somália, perdemos o rumo em Darfur (África). Somos a antítese, somos o pano grosso da indecência, chutamos o nosso amor próprio para o canto da sala. Predomina em nós uma violenta apatia, tendo como substrato a indiferença. Não pensamos mais, apenas buscamos o nosso tão sonhado final de semana. Vamos sorrir, vale a pena.”

Tene Cheba

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - TERRA

UMA ÓTIMA SEMANA!

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