quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PERNILONGOS

Costumo parar durante as minhas pedaladas diárias para conversar com o seu Zé Paixão. Setenta anos, chapéu de cangaço, amarrado no queixo, calça social e camisa de mangas compridas, sapato lustradíssimo. Pedala assim todos os dias. E já me disse que tem cinco bicicletas. Uma alegria daquelas que pegam e uma disposição maior que de menino. Quando o conheci, estava tirando do bolso um remédio para tomar e perguntei se estava se sentindo mal. Ele me mostrou para que o lembrasse o nome. Não sei se é esquecimento ou se não sabe ler.

- Gardenal, li meio preocupado.

- Moço, tenho que tomar esse remedinho pro resto da vida, o doutor falou. Eu caí de cabeça um dia e fiquei assim meio esquecido das coisas.

Ficamos amigos e volta e meia paramos para um rápido bate-papo, entre o descanso e novas pedaladas. Dia desses comentava de uma noite mal dormida por causa de pernilongos que me infernizaram o sono. Contei a ele que não podia usar esses venenos eficazes em aerossol, que minha mulher tem alergia respiratória e que esses refis de tomada são é vitamina para os bichos. Não espantam e os fazem zoar ainda mais.

-Pois, seu moço, lá em casa tá do mesmo jeito. Outro dia eu coloquei umas balas no revólver e dei uns dois tiros debaixo da cama. Os vizinhos perguntaram se eu tava ficando doido. Ora, pode até não ter matado mas deu um fumaceiro que não vi mais pernilongos.

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