domingo, 20 de abril de 2008

JARGÃO

Segundo a definição que adaptei dos dicionários, o jargão é uma forma própria de um determinado grupo se expressar, numa linguagem corrompida, uma espécie de gíria específica. Para mim, não passa de um corporativismo lingüístico. Um diálogo defensivo. As profissões trazem junto com seus afazeres, o próprio código de comunicação. E depois, para desespero geral, o trazem para nos causar afasia. Não tenho nenhuma implicância com nenhum desses grupos, a não ser quando me sinto enganado pela própria ignorância no assunto ou por achar que o uso do jargão é para esconder alguma ameaça que não pode ser feita de outra forma. Esse negócio só pode ter sido criado por algum serviço secreto. Tente decifrar a bula de um remédio qualquer ou ler uma argumentação inicial de um processo judicial e vai entender o que digo. Se conseguir. Alguns depoimentos sinceros:

Policial:

- Estávamos em patrulha de rotina quando identificamos um elemento suspeito que evadiu-se do local ao se deparar com a viatura, mas o mesmo não logrou êxito, pois conseguimos abordá-lo e após averiguações, descobrimos que o meliante estava de posse de uma bolsa que havia subtraído de uma transeunte. O elemento agora vai ser encaminhado à delegacia...

Mecânico:

- Olha, senhor, seu motor está batendo biela. Podemos fazer o serviço completo ou dar uma guaribada.

- Guaribada?

- É, uma meia sola.

_ ???

- Trocamos só os casquilhos. Damos uma usinada no eixo, uns ajustes no cabeçote...

- Mas isso é gambiarra!

- É doutor, só tem que esperar o motor amaciar e não rodar na banguela. Aí, agüenta um tranco bom ainda e tem garantia. Três meses na mão de obra.

Advogado:

- Doutor, acabei concordando com as explicações que me deram sobre o prejuízo...

- Data vênia, seu caso é merecedor de uma querela para reparar danos.

- Não entendi.

- Peticionarei ao douto juízo e questionaremos no mesmo diapasão ignominioso que lhe ofenderam a mais alta sapiência.

- Hein?

- A corte vai fazer valer o fumus boni júris.

- Tá bom, doutor, onde é que eu assino?

Atendentes em geral: (por falta de recursos de linguagem)

- Alô!

- Pois não, em que posso estar ajudando?

- É sobre a minha conta telefônica.

- Posso estar sabendo do que está se tratando?

- É sobre umas cobranças indevidas...

- Só um momento, senhor, e já estarei indo atendê-lo (meia hora de espera) e desisto. Agora não estou podendo.

Cuidado. Esses jargões parecem estar contendo vírus. Já contaminaram muita gente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei os textos. Gostaria de ler outros mais.Sao textos que nos permitam conhecer a "lingua na boca do povo", isto e, o jeitinho brasilero de ser como bem falou Mario de Andrade em sua obra Macunaima.

Anônimo disse...

Ver o quanto a Lingua Portuguesa e rica e o povo brasileiro ainda mais. Citei em outro comentario o jeitinho brasileiro de falar na obra de Mario de Andrade "Macunaima", sem duvida, ela nos traz na memoria a historia de nossos antepassados, e nada mais prazeiroso do que reviver esse passado em pleno seculo XXI.

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