Diogo Dider é um jovem professor lá de Recife. Estudante e professor. E é bem jovem mesmo. Pela sua carinha na foto do blog, não deve ter mais do que vinte anos. Isso é muito bacana quando se trata de um estudante e professor ao mesmo tempo. Ensinar a aprender são para mim umas das melhores coisas da vida. Eu, inclusive, aprendo muito com ele sempre. Seu blog trata de temas leves, profundos e polêmicos. Sempre com muita competência. Estou reproduzindo um artigo dele que participa de um trabalho de faculdade cuja tarefa é solicitar que amigos reproduzam um texto de seu blog sobre uma questão política e o faço com prazer. Quem quiser conhecer o blog a fazer o mesmo(ou seja, reproduzir também em seu blog), tenho certeza que ele ficará grato.
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O
Brasil é conhecido por sua grandiosidade territorial, suas belas praias
e exuberante flora, sua musicalidade e suas sinuosas mulheres. Também é
conhecido pela diversidade cultural, responsável pela formação de uma
sociedade miscigenada, sejam em aspectos étnicos, sociais ou religiosos.
De fato, a variedade de formas, cores, sons e credos fazem desse país
um oásis no meio da América Latina, criando um rótulo de paraíso nos
estrangeiros e um sentimento ufanista nos que aqui residem. No entanto,
nesse conto de fadas à brasileira, nem todos têm a oportunidade de terem
um final feliz, pois enquanto a economia nacional se multiplica a
divisão dela continua restrita nas mãos de poucos.
Como
se sabe, o Brasil está crescendo muito rapidamente se comparado aos
seus vizinhos latinos. Mesmo com tal constatação, o aquecimento
econômico não tem solucionado certos problemas que insistem em
desmascarar o “progresso” pelo qual o país está passando. As
possibilidades de mudanças sociais ampliaram, mas, a resolução de temas
que afligem as pessoas mais carentes como educação, segurança e saúde
pública de qualidade, moradia e saneamento básico são assuntos que
continuam sem uma solução concisa. Na verdade, o que acontece por aqui é
uma sucessão de paliativos que tentam encobrir uma sequência de erros
que, infelizmente só atingem as camadas mais pobres da população.
Nessa
vida de descaso e esquecimento, não é de se surpreender que a nação
sofra com a brutal fúria da desigualdade social. Esta moléstia moderna
acabou contribuindo para o surgimento e disseminação de outro problema
muito maior e, ao mesmo tempo, muito longe de ser resolvido, à
violência. Ela, na verdade, configura-se como o espelho de tudo o que
ocorre com as pessoas esquecidas pelo poder público. É também o fenômeno
social que se volta, inevitavelmente contra aqueles que contribuíram de
alguma forma para a ampliação existente entre os grupos dos mais ricos e
dos mais pobres. Ou seja, é um anarquismo transgênico, elaborado não em
laboratórios, mas sim na raiva ensanguentada de um povo que não quer
viver a revelia da vida. Em outras palavras, as pessoas não querem ser
condicionadas a meros serviçais, matéria bruta da burguesia, mas ter as
mesmas chances de transformar a sua própria condição de sujeito.
E,
enquanto a nação cresce economicamente na visão internacional, com a
moeda local valorizada, mais exportações de produtos e com a procura de
novas empresas multinacionais interessadas em se instalarem por aqui, a
diferença entre ricos e pobres também cresce proporcionalmente. Tudo
isso porque quem detêm as rédeas do poder, ou as pessoas que guiam o
leme das finanças nacionais, não consegue, ou não tem o menor interesse,
de equilibrar a divisão do dinheiro que é introduzido no país com o
esforço da coletividade. Disso resulta o desnivelamento que acomete
apenas as camadas historicamente desfavorecidas de saúde, de segurança
e, sobretudo educação.
Como
um cidadão conseguirá entrar nesse rumo de transformação social, pelo
qual a nossa economia está passando, se ele não tem as mínimas condições
de concorrer a uma simples vaga de emprego, visto que os governantes
não lhe deram a oportunidade de se preparar para tal? A resposta é
simples, não conseguirá. Ele, como muitos outros, ficará estagnado na
sociedade, exercendo alguma função maquinizada, ou seja, que não exija
muita reflexão para ser executada. Isso, é claro, se ele não for fisgado
antes pelo bicho da marginalidade, o qual dia após dia captura para o
seu cativeiro pessoas com o sonho de mudar de vida e, depois de
esquecidas pelos nossos governantes, acabaram frustradas, servindo de
lenha para criminalidade.
Falar
em um país de todos só seria devidamente coerente se a segurança
pública estivesse quase que totalmente comprometida na proteção do povo e
não fosse desviada para a cratera da corrupção, muitas vezes atraída
pela cobiça de dinheiro fácil. Dizer que um país é de todos seria
convincente se a saúde pública daqui fosse referência internacional, mas
o que se vê são hospitais lotados, pessoas amontoadas em filas
mendigando uma ficha para atendimento e profissionais mal remunerados,
desestimulados, e quando não mal preparados para atender a desumana
demanda dessas instituições.
Afirmar
que um país é de todos seria verdadeiro se os serviços de saneamento
básico e de água encanada chegassem a todas as residências desse Brasil,
garantindo uma vida digna a cada pessoa que constitui essa nação. E
proferir a falácia de que vivemos num país de todos é ignorar que a
educação pública, tão importante para a construção, reflexão e
transformação individual e coletiva da sociedade, está sendo posta de
lado, paulatinamente falseada com dados mentirosos que tentam mascarar a
verdadeira realidade do quadro de esquecimento e desrespeito da
educação pública e, muitas vezes privada, nacional.
Por
isso, é preciso que os governantes vistam a camisa, não com o título
“Um país de todos”, mas sim “Um país para todos”. Para pobres e ricos,
homens e mulheres, brancos e negros, jovens e idosos, héteros e gays,
religiosos, deficientes, absolutamente para todos os que formam a
pluralidade de vida existente nessa nação. Estamos cansados de sermos
enganados com falsas promessas de mudanças que são lindas em discursos,
mas na prática não são realizadas. O povo quer ação concreta, imediata.
Quer ver a transformação acontecer por baixo, com aquele menino da
favela sem perspectiva de futuro, com aquele homem que vive isolado pela
seca do nordeste brasileiro, pelas mulheres que lavam suas roupas sujas
no curso do rio São Francisco, pelos povos que vivem isolados nas
longínquas terras amazônicas desse país. Ou seja, o povo quer, precisa, e
tem o direito de ver as reais mudanças acontecerem agora.